A MUDANÇA DE UM PAÍS COMEÇA NA PESQUISA

 
 

Imagem: Google
 
Muito se fala em mudança, em quebra de paradigmas, em movimento de black bloc, partido deste ou daquele, sem terra, sem casa, sem isto ou aquilo, enfim...Tudo menos a preocupação com a pesquisa nas escolas, especialmente no ensino superior. Com o surgimento da chamada “sociedade do conhecimento”, algumas questões ligadas à educação superior conquistaram considerável destaque enquanto tema de investigação.
 
O significado proposto e inserido na expressão “sociedade do conhecimento” amplia a percepção da emergência e consolidação de uma forma de organização econômica que constrói na produção, no armazenamento e no controle da informação, principalmente aquela de base técnico-científica utilizada nos investimentos que visam lucros, a sua essência e sua base de existência.
 
Tal proposição funde em si própria o paradigma de que somente é possível sua realização a partir da concordância dos indivíduos de uma sociedade; da necessidade de mudanças ou transformações que se revelariam no descarte ou negação de “antigos” valores e a incorporação de outros tantos mais coesos ao mundo informacional, à construção e institucionalização das futuras gerações de novas expectativas de futuro. Nisto estamos relacionando um conjunto de incertezas das forças do trabalho, empregos instáveis e a instigante e inquieta busca por formação educacional ao longo de toda a vida, ou seja, a aceitação de que o conhecimento adquirido tem duração limitada, um ciclo de vida compatível com o presente.

A discussão acerca da reestruturação dos sistemas universitários não é um fenômeno isolado e novo, no Brasil particularmente existe desde 1930 com a reforma de Anísio Teixeira e está presente nas sociedades dos países de economia dinâmica de todos os continentes. Hoje estamos em meio a aprovação de um orçamento na ordem de 10% do Produto Interno Bruto(PIB), justamente para amparar o Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos cinco anos, mas isto que é um debate que perdurava desde 2010 no congresso se mostra suficiente? Isto nos garante um país autônomo em sua produção de conhecimento? Acho melhor apresentarmos o Programa Institucional de Bolsa para Iniciação Científica (PIBIC), um personagem sexagenário e cheio de promessas de um futuro melhor...seguimos... 
 

A iniciação científica como "libertação"

 
Na década de 80, o Estado brasileiro iniciou um processo de expansão para o conjunto do sistema universitário (no nível da graduação) uma experiência que hoje conhecemos como PIBIC, que na verdade já existia desde a década de 50, quando houve a institucionalização do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Duas metas se destacam no encaminhamento do PIBIC: primeira, a formação precoce nos alunos de graduação de uma mentalidade científica por meio de projetos de Iniciação Científica e segunda, uma inserção mais rápida dos alunos participantes de IC no mestrado ou doutorado, onde se espera uma redução no seu tempo de titulação.
 
Não é novidade para ninguém que na região Sudeste se encontra o polo universitário e de produção de ciência e tecnologia mais destacado do país, que o PIBIC tem longa tradição. Entretanto e contraditoriamente, tal iniciativa que deveria produzir muitas implicações positivas em termos sociais e econômicos para o país e a sociedade local, parece não mobilizar integralmente a academia e os pedagogos, em particular, como instrumento de apoio profissional e objeto de investigações sistematizadas. Via de regra, a literatura disponível sobre o tema registra esparsas reflexões críticas de acadêmicos ou balanços avaliativos originados de órgãos oficiais de fomento à pesquisa.

Enquanto trabalho coletivo que envolve variáveis complexas, como as diferenças regionais, a cultura da pesquisa, as limitações de verbas, o PIBIC enfrenta problemas e, muitos trabalhos apontam para uma relativa influência no desempenho discente (na graduação), com consequências negativas, tanto para instituição como para o aluno, como o abandono de projetos e evasão do curso, motivados por frustrações pessoais e de expectativas profissionais. Desta forma, seria ideal e necessário estimular internamente, em todo o sistema , iniciativas capazes de adequar desempenho eficiente e retorno social. Para isso, é preciso intensificar a busca por instrumentos de avaliação, qualitativos e quantitativos, bem como ações corretivas das políticas públicas para o ensino superior, inclusive o PIBIC.

 

Os dados falam por si

 
Segundo a pesquisa do professor da Unicamp, Marcos Jorge, 63% dos mestrandos que tiveram bolsa de IC publicaram um ou mais resumos antes de ingressar no curso [mestrado] que frequentavam, ao passo que apenas 45% dos que nunca participaram da IC o fizeram. Foi constatado também um aumento constante nas verbas do Programa (PIBIC) ao longo da década de 90, que chegou a alocar quase um terço das “despesas realizadas no país, com formação de recursos humanos e pesquisa”. As bolsas de IC correspondiam a 27,04%, sendo suplantadas pelo Mestrado (34,29%) e Doutorado (33,13%).
 

Outros trabalhos de pesquisa sugere que o PIBIC realmente propicia condições favoráveis para a inserção do aluno bolsista na pós-graduação. Observaram que 22% dos mestrandos que não tiveram bolsa de graduação também nunca tiveram bolsa de mestrado e ainda, encontraram também forte correlação entre alunos bolsistas de IC e o seu ingresso mais rápido no mestrado, apontando que os “ex-ICs” demoram em média 2,4 anos após  a graduação para chegar ao mestrado enquanto que entre os não bolsistas esse tempo sobe generosamente para 6,8 anos.
 
 

A construção do jovem pesquisador


Este trabalho de pesquisa do professor Marcos Jorge revela também que apesar de constatar que o nível de envolvimento dos pedagogos(docentes) se apresentava como um problema da IC, o número de professores envolvidos em atividades de pesquisas cresceu e incrementou a produção científica ao menos em termos de divulgação interna.
 
Ainda como observações importantes colhidas pelo trabalho, está a avaliação dos professores quanto aos pontos fortes a serem estimulados nos discentes, como por exemplo; as habilidades mentais de comparação, julgamento, criação e investigação de problemas, cuja envergadura têm íntima relação no envolvimento com a pesquisa sistematizada, além de instigar a criatividade, a curiosidade e a atitude crítica dos alunos.

Conclui-se então que o PIBIC traz mais ganhos do que riscos para a instituição e para o aluno bolsista, sendo possível inclusive enumerar algumas destrezas intelectuais e práticas cotidianas que este adquire ao longo da IC.Exemplos como a fuga da rotina e da estrutura curricular, o manejo competente dos sistemas de referências e bases de dados eletrônicas, aquisição de capacidades diferenciadas nas expressões oral e escrita e nas habilidades manuais e fundamentalmente o contato com um professor-orientador, geralmente aquele que ministra a disciplina cujo aluno “tem mais simpatia e paladar”. Os autores apontam que vivenciar a IC leva o bolsista a perder o medo, não ter pânico do novo,  estimulando o espírito crítico e independente, além da autonomia e autoconfiança, condições essenciais para o devir científico.
 
Recado dado, é hora de ir.
 
Que DEUS nos Abençoe !

 

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