A VOCAÇÃO MANIQUEÍSTA DA SOCIEDADE

 
A ORIGEM
 
Maneira de pensar simplista em que o mundo é visto e dividido em dois lados; o do Bem e o do Mal .Dá-se como conceito a esta visão o que conhecemos hoje como maniqueísmo.Nascido na Pérsia no século III, Mani (Manes ou Manchaeus), fundou uma religião, o maniqueísmo, após ter sido "visitado" duas vezes por um anjo que o convocou para esta tarefa, fato este comum entre aqueles que fundam religiões e seitas até hoje. A religião maniqueísta se difundiu pelo Império Romano e pelo Ocidente Cristão. O maniqueísmo combina elementos do zoroastrismo, antiga religião persa, e de outras religiões orientais, além do próprio Cristianismo.Forma religiosa de pensar; não como religião autônoma, mas enquanto comandos camuflados que influenciam os discursos do cotidiano, inclusive as religiões formais e seitas.
"Possui uma visão dualista radical, segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: o Bem (luz) e o Mal (trevas) como entidades antagônicas em perpétua luz. Luz e trevas no sistema maniqueísta não são figuras retóricas, são representações concretas do Bem e do Mal.
O Reino da Luz e o Reino das Trevas estão em permanente conflito. É dever de cada ser humano entregar-se a esse eterno combate para extinguir em si e nos outros a presença das Trevas afim de poder alcançar o Reino da Luz, que é o Reino de Deus. No maniqueísmo, os homens "eleitos" irão purificar o Bem, com uma vida de castidade, renúncia a família, alimentação especial, etc.
A simplificação é uma forma primária do pensamento que reduz os fenômenos humanos a uma relação de causa e efeito, certo e errado, isso ou aquilo, é ou não é. A simplificação é entendida como forma deficiente de pensar, nasce da intolerância ou desconhecimento em relação a verdade do outro e da pressa de entender e reagir ao que lhe apresenta como complexo.
O USO
 
A expressão maniqueísta ganhou vocabilidade  ao definir aquele tipo de pessoa ou aquele tipo de pensamento de estruturação dualista que reduz a vida a pares antagônicos irreconciliáveis, tipo: direita e esquerda, reacionário e progressista, belicista e pacifista, fiel e infiel, capitalista e comunista, individualismo e coletivismo, branco e negro e assim por diante.
Não podemos deixar de reconhecer a existência daquilo que cada um desses pares antitéticos nomeia, mas o pensamento maniqueísta vai além na medida em que considera que um lado deve destruir o outro, um é o Bem e o outro é o Mal.
Santo Agostinho que inicialmente foi maniqueísta, depois de ter se afastado, escreveu em Confissões (livro 7) que, nessa doutrina "não tinha encontrado paz e apenas expressava opiniões alheias".

Nietzsche, outro que combate em suas obras propõe pensarmos para além do Bem e do Mal, mais uma delas da vocação anti-religiosa e diz: "Perguntai aos escravos quem é o "mau"?, e apontarão a personagem que para a moral aristocrática é "bom", isto é, o poderoso, o dominador" .Então, o Bem e o Mal, dependem da perspectiva e dos interesses de quem julga. Deveríamos nos colocar no lugar do outro.
 
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 

 
Seguindo pedaço de cada um(Santo Agostinho e Nietzsche), podemos elencar momentos históricos em todos os setores disciplinares da sociedade contemporânea onde o Mal reconhecido não nasceu do próprio Mal e sim de uma perpetuação do que era reconhecido como Bem.Como assim?? pergunta o intrépido leitor...
 
Simples como a própria história...Adolph Hitler significou, ainda que fascista por vocação, o Bem em 1933 quando eleito chanceler alemão para enfrentar a grave crise de seu país, que sofria com uma desorganização econômica sem precedentes.Até 1938 ele realmente cumpriu o papel de "salvador" para a pretérita débil economia alemã, entretanto como lider estrategista, se lançou contra a Europa para anexar países sobre o pretexto de conflitos étnicos, então a manifestação tirana do Mal...sua origem...o Bem.
 
John Maynard Keynes, o economista que influenciou gerações, era o Bem desde sua investida no pensamento Keynesianista do pleno emprego, tornando-se o Mal quando comparado com o neoliberalismo consolidado pelo Estado liberal fundado por Margaret Thatcher em 1978.Entretanto foi ressucitado em 2008 após a crise neoliberal do sub-prime, voltando a ser o Bem, ainda que temporariamente e sob algumas ressalvas.
 
Nas eleições nacionais, o Brasil está repleto de exemplos de dualismo, onde temos o Mal associado aos governos de José Sarney,Collor,Fernando Henrique e Lula, todos curiosamente representavam o Bem perante os seus antecessores.
 
Sarney foi o Mal associado a inflação, entretanto partilhou a missão de combater a inflação com o cidadão brasileiro, o que foi considerado o Bem anos depois de seu governo.Collor tem a mancha da impugnação de seu mandato e do confisco, embora tivesse aberto os mercados automobilísticos e de informática, algo percebido como Bem logo no governo posterior.O governo FHC foi associado ao fracasso cambial e das privatizações, entretanto partilhou o Bem reconhecido por governos posteriores que era a estabilidade econômica provida pelo Real.O mesmo aconteceu com o governo Lula, associado ao mensalão, deixou o legado da inclusão de mais de trinta milhões de brasileiros na economia formal, o que todos consideram o Bem.
 
Como pode-se perceber, o que é o Bem para um pode não ser para outros, dependendo de sua articulação social e econômica.Ainda o Bem perpetuado tem se tornado o Mal presente conforme aponta a história.Podemos aqui tecer varias linhas do tempo para associar o Bem e o Mal, com  ou não sincretismos religiosos, não existe de fato a concretização simplista proposta pelo confronto maniqueísta, apesar de sermos sempre impelidos a ser.
 
Que DEUS nos abençoe e até a próxima!!!    
 

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