O CÍNICO HÁBITO


Imagem: Google

Estamos vivendo o monopólio do cinismo, expressão weberiana ao se referir ao poder coercitivo do Estado sobre a violência .Pois bem, o monopólio do cinismo está hoje no poder político emanado da autoridade régia do cargo, onde no Brasil não é mais possível separarmos o joio do trigo dentre as opções políticas. A  dimensão da banalidade moral talvez seja a medida de uma dimensão moral, propriamente dita, em relação ao sujeito que é desonesto.

Essa dimensão parece que também está muito arraigada entre nós, desconstruindo a verdade, pois nos deparamos facilmente em circunstâncias que seriam negativas do ponto de vista da corrupção, e justificamos isso com algum cinismo. Cito o sujeito que sonega alegando que a carga tributária no Brasil é muito alta, pois bem, quando a gente usa esse argumento é porque perdeu completamente as referências. Se existe algo injusto, o sujeito busca atalhos e aí flertamos na questão da disseminação da corrupção.
Aqui um momento de reflexão a respeito da corrupção, não está obviamente só na política, nem só nas empresas, mas no cotidiano das pessoas deste país. Podemos lembrar que um aluno que faz um pequeno ato de corrupção ao colar, ou o sujeito que vai declarar o Imposto de Renda e toma atitudes convenientes para pagar menos, incorpora o sujeito da ação na corrupção. Será que nós somos corruptos na medida que expressa a realidade, rouba pouco por não tem poder e alcance das grandes quantias?

Certamente a dimensão moral e ética, ética especialmente, tem o seu peso. Contudo devamos colocar em evidência que  a questão histórica também é muito relevante, porque existem algumas sociedades em que esse padrão ético é muito elevado, e quando há deslizes, a punição legal e social é muito severa. O Brasil historicamente tem uma relação um pouco estranha com essas questões, com a questão pública, com o dinheiro público, muito ligado a origem e os propósitos de colonização na nossa terra, uma colonização exploratória, movida por perseguidos e criminosos que aqui buscavam somente o enriquecimento na terra nova ,ao invés de construir uma nação nova ,desprendida das mazelas do velho continente. Mas apesar deste argumento, é possível a busca de um caminho?

A escola nesse contexto teria um papel fundamental, mas os professores, o diretor da escola, todos fazem parte de um sistema relativamente viciado na sua origem. Muito embora exista um papel muito grande no qual a escola pode se empenhar, ao menos pela simples reflexão da importância do sujeito nas questões públicas e sua cidadania. Penso que qualquer modelo proposto para resolver este conflito inclua a instituição política, a escola, a universidade, pois são parte orgânica da nossa  sociedade.

Afinal, de quem é a culpa?


Hoje predomina uma discussão de classe e suas responsabilidades, fundamentalmente porque atribui-se a crise política ao eleitor de baixa renda pela reeleição da ex-presidente Dilma, para muitos o estopim desta crise moral e ética sem precedentes...será? É bem verdade que historicamente as camadas mais pobres terminam assumindo, contraditoriamente, posições muito conservadoras – mas aí entra a educação, porque com a educação formal, haveria ao menos a oportunidade de refletir, de ler, de discutir e de saber que os mais pobres, os mais simples serão os atingidos especialmente pela flexibilização das leis trabalhistas, pela alteração da regra previdenciária entre outras situações em curso no Brasil. Veja como as pessoas estão sem capacidade de reflexão crítica. As pessoas se aliam a posições conservadoras, que são prejudiciais à sua própria classe, ou fração de classe, ou segmento social.

Havia uns anos atrás, talvez em 2015 não me recordo bem, que a professora e escritora Marilena Chauí empenhou um discurso extremamente duro atribuindo mazelas e comodismo pelo atual momento político do país  em relação à classe média, entretanto quando nos colocamos em uma reflexão de ação e reação não percebemos fidelidade neste discurso.

Tomemos a reforma tributária como referência, cujo resultado teria surtido um efeito enorme sobre a classe média, que é extremamente penalizada. Ou ainda buscar uma reforma política a qual teria respondido em grande medida os desejos da classe média. Sim, porque a classe média e não os mais pobres?. É porque ela é que estava em grande medida nas manifestações de 2013, e mais, nos remete a outro episódio histórico, o de 1930. A classe média que apoiou o tenentismo em 1930 era uma classe média também contra a corrupção, contra a política e a esquerda populista ocupou esse espaço. Veja que neste trecho da nossa conversa temos momentos especiais do cinismo que se espalhou pela sociedade em troca da desinformação. Em um ambiente de generalismos e referências exclusivamente temporais, abrimos um enorme espaço para que se germinem sementes da fratura histórica de uma sociedade...


Até você Lava Jato...


Até a operação contra corrupção neste país usa argumentos irreais para justificar sua importância em um país que não sabe ainda se quer passar a limpo sua história. A comparação que o juiz Moro gosta de fazer em relação a Operação Mãos Limpas na Itália não é fidedigna, pois a mesma jamais fez uso de delações premiadas por se saberem viciadas. Delações premiadas foram usadas exclusivamente com resultados ambíguos, no combate à Máfia e à sua omertà, ou seja, o seu código de silêncio. Mas por que usamos algo notório externo para justificar a importância de nossas ações, por que ampliar desmedidamente algo cujo o tamanho é o que menos importa ? Sempre temos atitudes que nos coloca uma síndrome de inferioridade, necessidade de sempre estarmos comparando para termos valor ,aqui em especial existe um cinismo comportamental

Antes mesmo que possa ter um ato falho e corrompa o direito intelectual,digo aos senhores que este texto é fruto de observações do professor, historiador e cientista político Vitor Amorim de Angelo, titular do mestrado da Universidade de Vila Velha no Espírito Santo,em uma entrevista concedida a Rede Globo local em 2015 a respeito do momento político brasileiro. 

Entendo que a discussão é oportuna e recortei alguns tópicos desta entrevista para participar com pontuais observações . Por hoje é só e que DEUS nos Abençoe!

Comentários

Os MAIS LIDOS

A VOCAÇÃO MANIQUEÍSTA DA SOCIEDADE

A INDIFERENÇA FAZ A DIFERENÇA

UM BRASIL PARA BRASILEIROS