A INCERTEZA E O SUJEITO OCULTO



Imagem: Google


De tão paradoxal, chega a ser inocente a percepção de valor a respeito do caminho da crise política e econômica pela qual passa a sociedade brasileira. O nível de incerteza chega a ser tamanho que as pessoas não se deram conta que além de políticos, no banco dos réus está também a sociedade corporativa(empresas), cujo comportamento ético tem sido tão afetado ou mais do que aqueles que constam nas listas do Ministério Público Federal(a lista cresce a progressão geométrica).

Esta confusão está afetando os textos escritos por pessoas gabaritadas a escrevê-los  e estão transferindo para as ruas um clima belicoso, hostil e sem limites.O que encontramos por aí são panfletos disfarçados de crônicas com noções confusas e idéias truncadas e perturbadas em diversas áreas do conhecimento. Todos estão escrevendo de tudo e com uma qualidade informacional duvidosa (aqui nem preciso comentar que no momento as verdades são privadas e as mentiras públicas), acho desnecessário explicitar esta observação.

O retrato de um país

Uma das pérolas que produzimos recentemente foi um texto para lá de curioso escrito no editorial do jornal britânico Financial Times neste último mês de março. O texto abordava a situação política brasileira que culminou com as escutas da presidência e a nomeação do ex- presidente Lula para a Casa Civil, chamando de eventos "extraordinários" mesmo para um país cuja trajetória é "cheia de histórias improváveis". Segue o recorte do texto original:

"Um presidente (Fernando Collor) afastado por suposta corrupção que volta como senador para logo ser acusado em outro escândalo. Um líder de uma comissão de direitos humanos e minorias (Marco Feliciano) conhecido por supostos insultos racistas e homofóbicos. O ditador (Getúlio Vargas) que se suicidou de pijamas (...), o primeiro presidente do Brasil democrático (José Sarney) que nunca foi eleito", afirma a publicação, para quem os desdobramentos atuais desafiam até os "padrões normais" da política nacional.


As noções de grandeza dos eventos e aquilo que os mesmos sugerem criam uma atmosfera de incerteza nunca vista por aqui...Existe algo dito no mundo corporativo como..."sabemos como uma crise começa , mas não como e quando termina". Neste momento nós brasileiros estamos presos em uma pauta perturbada e com viés de confronto em direção ao abismo de idéias vagas. Temos provocado sem trégua a multiplicação da incerteza e pode-se sentir fraturas em todo o espectro social (famílias, políticos,magistrados,jornalistas,empresários,banqueiros),cujas atuações  ou estão sob suspeita ou padecem de sua própria cultura de conivência moral.

As ruas trouxeram além da legalidade do impeachment ,novamente um embate político idealista e econômico que elegeu o assistencialismo ou intervencionismo social como um dos grandes algozes de nossa derrocada, enquanto outro lado ataca o neoliberalismo como o responsável por décadas da imobilização da pirâmide social, levando á ampliação da concentração de renda . Para estas discussões devemos lembrar que tanto Keynes em 1936(Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda) quanto Von Mise em 1979(Seis Lições) já o faziam de forma mais consistente e nada que estamos discutindo está trazendo algo de novo para o tema.

Como dito no início desta crônica, as discussões oscilam de um  lado para o outro desvelando um enredo pobre e nada criativo, apoiadas em frases clichês criticando um suposto golpe, a ameaça ao estado de direito entre outras idéias de salão. Eu francamente gostaria de  por meus pés em outro terreno e começar uma discussão á respeito de nossa sociedade corporativa e entender qual grau de governança as orientam, esquecer o país da piada pronta, afinal quem mais está perdendo senão TODOS. 

Sujeito oculto


Todos nós devemos baixar o tom da voz e perguntar o que fazemos quando uma empresa para justificar seu  mercado de atuação corrompe  o ambiente concorrencial? Alguém está sendo responsabilizado por seus acionistas, sejam majoritários ou minoritários, quanto a governança e o compliance  de suas atividades, principalmente quando estas ferem a ética e os valores do "negócio leal"? Não esqueçamos que a empresa é um objeto inanimado e quem dá "vida" as corporações são as pessoas, estas que devem zelar pela relação correta corporativa.

A  estrita observância das demandas judiciais motivadas pela operação lava-jato no presente momento está levando em conta somente denúncias que atentam contra o patrimônio público e suas empresas, por formação de quadrilha ou conluio com o universo político, nada mais...voce pode dizer, acha pouco?

A questão não é quantitativa, mas sim qualitativa, e mais, o universo corporativo tem regras ainda pouco claras aos investidores. O novo mercado e a lei das S/A's ao se modernizarem deram um passo contributivo importante, mas não o suficiente para um mercado que exige transparência aos seus participantes. Diferentemente da Europa ,Ásia e América do Norte, ainda não temos casos relevantes de prisões , afastamentos e processos movidos por minoritários no mercado de capitais brasileiro. O que está em jogo é algo mais perturbador, um comportamento clientelista de balcão entre empresas no Brasil . E não venham dizer que isto está no passado por que isto é cultural, algo quase peculiar de uma nação que convive muito bem com relações empresariais repleta de ingerências passionais.

Nosso balcão de negócios está cheio de obscuridades e modelos de "governança jabuticaba", aqueles que só existem aqui no Brasil. Existe portanto um sujeito oculto neste processo que alimenta um poço de incertezas, pouco falado por que está mais fácil falar da lava-jato do que imputar responsabilidades  em nossas empresas, não são todas, mas são muitas as que fecham os olhos para praticas criminosas. Se há quem corrompe, a quem permita ser corrompido, embora muitos não queiram enfrentar esta dura realidade ,diminuir a incerteza passa obrigatoriamente pelo aumento da transparência. 

Das federações e órgãos representativos espera-se mais do que apresentar patos infláveis contra uma tributação pornográfica, espera-se uma contribuição de instrumentos que protejam as pessoas das negociatas patrocinadas por executivos impunes. Se somos uma sociedade que tem práticas neoliberais, devemos cumprir minimamente as regras deste modelo e desvelar o sujeito "comportamento ético empresarial" da escuridão.

Por hoje é só e que DEUS nos Abençoe!  

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