AMARGO REMÉDIO





 
Imagem: google.com.br

O professor e colega João Sicsú, do Instituto de Economia da UFRJ, escreveu a pouco tempo atrás um texto bastante interessante a respeito do preço que se paga pela escolha do regime de metas inflacionárias. Neste artigo reproduzirei alguns trechos deste texto mesclado com meu ponto de vista a respeito do tema.
 
Não é de hoje que todo tratamento de choque "abusa" naturalmente do remédio amargo. Este tal "regime de metas inflacionárias" implantado no Brasil ainda no governo FHC em 1999, não é tão inocente quanto aparenta. Isto porque não é uma simples fixação de meta inflacionaria a ser perseguida pelo Banco Central, vai muito além disto...
 
Sua estrutura e argumentação teórica se orienta por um único objetivo que é de controlar a inflação e consequentemente o único instrumento deste controle é a taxa de juros. Reduzir a inflação via juros não se traduz uma tarefa hercúlea, entretanto sua elevação provoca um efeito em cadeia devastador. A elevação da taxa de juros eleva o custo de financiamento dos gastos e, simultaneamente, transmite sinais negativos ao potenciais investidores e consumidores. Além disso provoca sempre a redução dos gastos efetivos e, portanto, a desaceleração econômica e o aumento do desemprego. Diante desse quadro, com dificuldades de realizar as vendas esperadas, cada empresário reduz, então, o seu ímpeto para remarcar preços.
 
O ponto exato deste movimento, ainda que para autoridades seja um discurso indigesto e improvável, é causar o desemprego , ou na prática, reduzir o tamanho do consumo retirando agentes econômicos do sistema. É preciso ficar claro que não existe outro mecanismo de controle da inflação que inclua taxa de juros sem a geração de desemprego. Se hipoteticamente o Governo elevar seus gastos para conter o crescimento do desemprego gerado pelo Banco Central, estará na verdade anulando seus instrumentos de política monetária anti-inflacionária.

É por isso que a combinação de um elevado superávit primário (que reduz os gastos públicos) com altas taxas de juros sempre viabilizará a redução do ritmo inflacionário.Contudo embarca neste mesmo pacote a elevação do desemprego(já comentada), a redução de margens de lucro e, no limite, quebras empresariais, também na mesma velocidade. Segundo Sicsú, foi essa a experiência brasileira no ano de 2003.
 
Seja o que for, não podemos esquecer que a inflação é um processo deletério que reduz a renda real dos mais pobres, configurando em um imposto natural sobre os mesmos.Neste caso, com a perda real do poder de compra da moeda, obriga o Banco Central como seu guardião a aplicar instrumentos monetários anti-cíclicos mencionados no parágrafo anterior, com a missão de restabelecer sua estabilidade. Muito embora tenha sua eficácia comprovada na interrupção do ciclo inflacionário, tal força produz um efeito ambíguo.De um lado protege o poder de compra dos menos favorecidos  enquanto do outro, retira renda total do trabalhador pelo efeito do desemprego.

Para o professor Sicsú a  inflação tem que ser controlada com instrumentos que ataquem as suas causas e não os seus sintomas, que são as tentativas empresariais de remarcar preços, já que os custos (que são a causa) já aumentaram. Se a causa da inflação no Brasil é a elevação dos preços administrados e choques cambiais, então, medidas devem ser tomadas urgentemente para que essas causas sejam eliminadas e deixem de atormentar trabalhadores e empresários. A taxa de juros é eficaz para combater a inflação como já comentei, mas seu uso não é desejável por conta de seus efeitos colaterais.

A boa medicina e a boa economia nos ensinam que devemos combater as causas e não os sintomas dos males. É claro que estas medidas para evitar a "doutrina clássica" do juros está ligada a árvore tributária, desoneração do modal produtivo e outras medidas que façam com que o Estado retire do seu bolso recursos com fins de mudar as causas...

Por hoje é só e que Deus nos Abençoe!

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