QUE CULPA TEM O POWER POINT?

 
 
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                                            Foto: Fábio Motta/ Estadão
 


 
Tenho 48 anos de idade, memorizo com boa medida de lembrança a contemporaneidade nacional, entretanto não conheço empresário brasileiro que conheceu a glória e o fracasso tão rapidamente  quanto Eike Batista. Em pouco mais de um ano, ele deixou de ser o oitavo homem mais rico do mundo e aclamado por seus pares na elite mundial dos negócios, para mergulhar em uma crise sem precedentes da recente crise internacional. Sua fortuna estimada no ano passado em mais de US$ 30 bilhões esta virando pó , e já dizem os fofoqueiros de plantão que ronda os incríveis US$ 200 milhões.
 
O emblemático jornal britânico Financial Times ofereceu página inteira da edição da última quarta-feira para analisar a crise do empresário brasileiro Eike Batista, apresentando-o como “Reverso da fortuna”.O tema aborda suas empresas startups de petróleo, mineração e logística ligando seu sucesso relâmpago a euforia do Brasil e outras nações emergentes durante a primeira década do século XXI.
 
Sua sina é um sinal mais amplo dos tempos duros que virão mais à frente, mostrando que a era da liquidez fácil acabou e as empresas brasileiras terão de lutar contra os concorrentes de outros mercados emergentes pelo capital cada vez mais escasso , sem a sobrevalorização dos commodities, empurrando o mercado para o chamado valor agregado e neutralizando a herança natural de riquezas de países periféricos.

Virando Pó

Ações da OGX que teve em outubro de 2010 sua cotação máxima  em R$ 23,27, viu neste mes de julho de 2013 perder quase 98% de seu valor recuando a singelos R$ 0,54.Até o ministro de Minas e Energia Edison Lobão se manifestou a respeito desta dramática situação afirmando esperar que o próprio mercado possa dar uma solução para os problemas enfrentados pelas empresas do "Grupo X" do empresário Eike Batista.
 
De acordo com o ministro,caso a OGX não consiga pagar os lances dados no leilão de petróleo nos blocos onde foi vencedora, a empresa poderá ser punida e ainda deverá devolver as áreas, alegando que toda empresa que participa de um leilão precisa cumprir com a sua parte.
 
Aqui podemos dizer que o "inimaginável" surgiu, se perguntasse para alguem de boa saúde mental a tempo recente desta tragédia financeira das empresas X, ninguém, absolutamente ninguém sequer falaria de uma dificuldade como esta, imagine tudo isto com risco de falência.

 A verdade por traz de um perfil

Talvez se pudessemos coloca-lo nem um divã, ele tentaria se esquivar do final da consulta, induzindo seus ouvintes e interlocutores uma rara habilidade discursiva de antecipar fatos pouco críveis e perceptivos movendo todos ao mesmo tempo para uma conclusão sob controle de seu script.
 
O professor e economista Stephen Kanitz escreveu recentemente em seu Blog razões do fracasso de Eike Batista, e pasmem os senhores, ele se diz um profundo conhecedor deste singelo e notório empresário.
 
Eike Batista  para ele é daqueles que têm iniciativa e acabativa, alguém que tira idéias do papel, mas lembra que o conceito de acabativa é um pouco mais amplo do que isto, e explica baseado no depoimento de um funcionário das empresas X:

Assim que Eike monta o quebra-cabeça do seu projeto, escolhe a equipe, delega todas as etapas de execução, ele perde o interesse no projeto e parte para outro.” 

Desta forma Eike se envolveu em 30 projetos diferentes desde hotéis, restaurantes chineses e shows de entretenimento, além de estaleiros, portos, mineradoras e exploração de petróleo, mostrando que ele discursa com perfil de entrega(acabativo) no sentido restrito da palavra, mas não é, pelo jeito, o que ele gosta de fazer. Ele é um iniciativo por definição e boa parte deste problema foi ser majoritário nos seus projetos, o que diante da análise acima não é a melhor estratégia. Um majoritário que se interessa pelo seu próximo projeto, não é um bom majoritário do projeto existente.
 

Power Point

No Brasil ,o investidor não está acostumado a ter ações de empresas que ainda são projetos. São as empresas de Power Point que precisam de capital intensivo e desenvolvimento rápido para poder ter uma geração de caixa que dê conta dos altos endividamentos e custos.
 
Criou-se então uma euforia em torno desses papéis que tinham um projeto interessante, mas que precisavam de longuíssimo prazo e parceiros para funcionar. Eike soube agregar todos os componentes necessários e fazer disto um projeto viável, e de fato tudo começou com um PowerPoint e estes não teriam cativado tanto os banqueiros formados em administração de empresas, conhecedores dos problemas do dia a dia, se eles não vissem no empresário um elemento de realizar e transformar seus projetos em empresas de verdade, com ativos de verdade para gerar caixa de verdade.
 
Que culpa tem o Power Point?
 
Por hoje é só e que Deus nos Abençoe!

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