A MÃO QUE BALANÇA O PIB

A semana passada tive a felicidade de assistir uma palestra do Professor e amigo José Pastore em um almoço promovido pelo também amigo e ora Presidente da Ordem e do CORECON, Professor Manolo.

Sua palestra tratava de um tema intrigante no Brasil de hoje (Produtividade e Custo do Trabalho: Tendências) que é a competitividade e a eficiência da mão de obra diante da crise internacional, ensaiando seus efeitos nos próximos anos no Brasil .Entre tantos relatos curiosos está o PLR antecipado das montadoras, que mesmo com o mercado retraindo não "ousam" cortar mão de obra pois julgam ter extrema dificuldade em repô-la....ops..queda de demanda, lucros em queda, e antecipação do PLR para segurar trabalhadores...o que estaria acontecendo?E mais...

Segundo dados do relatorio Focus do BACEN os ganhos reais observados nas 256 convenções trabalhistas dos últimos 12 meses dobraram de 1,6% para 3,1%...e mais ainda...

Os salários turbinados pelo salário mínimo subiram em média 8,7% comparados ao mesmo período de 2011...entretanto a produtividade caiu...Como? Caiu?

Explicações Preliminares

Primeiro um esclarecimento de ordem técnica: O crescimento do PIB não está relacionado exclusivamente à mão de obra, pois existem outros componentes como a produtividade total dos fatores.No ultimo ano, com ganho real dos salários a 3,1% perdemos ainda que ínfimos, 0,1% de produtividade, entretanto esta conta não preocupa pelo número pontual, mas quando comparamos o "conjunto da obra".O Brasil ocupa o honroso ultimo lugar dentre os BRICS no quesito produtividade com 2,2% ao ano, ante 3,2% da Rússia, 6,0% da India e 10% da China.

A perda de produtividade da economia brasileira aliada a baixa taxa de poupança,  a  ausência de reformas institucionais e o mercado de trabalho bastante aquecido ,acabaram por produzir juntas um efeito de subtração no Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil.Esse indicador - que em tese representa o quanto um país pode crescer sem acelerar a inflação - estaria hoje entre 3,5% e 4% para a maioria dos economistas consultados pelo Jornal Valor Econômico. Se eles estiverem certos, o PIB potencial ao fim do primeiro ano do governo Dilma Rousseff cairá em relação aos dos últimos anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, segundo estudo da FGV a respeito do "custo Brasil na mão de obra", aponta que diante da estrutura legal  de um salário de R$ 730,00 ,seu custo final para a empresa contratante  será algo em torno de R$ 2.070,00....E com algumas mudanças implementadas para desoneração desta carga pelo governo Dilma, podemos chegar já a um custo final para este mesmo exemplo de R$ 1.850,00, que melhorou, mas ainda tem impacto perverso no mercado formal de trabalho.

Mais a fundo...

Para decifrar a aparente contradição entre expansão modesta da economia e mercado de trabalho ainda aquecido, o economista-chefe do banco Crédit Suisse no Brasil, Nilson Teixeira, recorre a dados sobre a População em Idade Ativa (PIA), que vem caindo substancialmente nos últimos anos e nos alerta para dados que irei relatar.

Nos últimos 16 anos, vem ocorrendo uma modificação importante no crescimento da População em Idade Ativa (PIA). Entre 1995 e 1999, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a PIA crescia em torno de 2% ao ano. De 2000 a 2004, o ritmo caiu para 1,5%. De 2005 a 2009, foi para 1,4%. De 2010 a 2014, segundo estimativa do próprio IBGE, o crescimento esperado é de 1,2%. De 2015 a 2019, de 0,8% e, de 2020 a 2024, 0,3%.A partir de 2024, o crescimento esperado é de zero.

O que se percebe, com isso, é que o crescimento do PIB necessário para manter a taxa de desemprego estável é menor hoje do que anos atrás. Em 2005, por exemplo, para mantermos a taxa estável, precisávamos de uma expansão da ordem de 3%. No fim de 2011, o crescimento necessário ia de 1,2% a 2%, dependendo do cálculo utilizado. Digamos que esteja mais para 2%. Significa que, hoje, um crescimento dessa magnitude seria suficiente para manter a taxa de desemprego estável. Como projetamos a alta do PIB deste ano em 2,5%, o desemprego vai diminuir um pouquinho ou ficar estável. Em 2013, como esperamos um crescimento do PIB mais forte, é natural projetar que a taxa de desemprego diminuirá. Para este ano, estimamos que a média será de 5,8%, pouco abaixo dos 6% de 2011. Para o ano que vem, projetamos média de 5,2%.

Há também uma percepção de parte importante dos analistas de que o aumento dos salários reais é muito superior ao crescimento da produtividade, o que já abordamos no inicio deste artigo. Muitos associam a uma ideia de termos carência de mão de obra, notadamente mão de obra especializada, o que levaria a um aumento importante da inflação. Sobre isso, Nilson do Crédit Suisse usa duas observações:

Primeira observação

Os dados a que temos acesso na pesquisa mensal do IBGE não nos permitem ver que as categorias com maior nível de escolaridade (onde supostamente falta mão de obra) apresentem aumentos muito expressivos. Os trabalhos  disponíveis mostram que os reajustes daqueles que recebem os menores salários – e têm os graus de escolaridade mais baixos – são bem superiores ao resto, parecendo neste quesito de "falta de mão de obra" muito mais um fato episódico e conjuntural do que estrutural.  O que vemos é uma mudança que acompanha o rápido processo de alteração da distribuição de renda no Brasil.

Segunda observação

Existe no Brasil uma quantidade muito expressiva de pessoas no trabalho doméstico, muito acima dos países desenvolvidos,mostrando que ainda há um potencial ajuste futuro do mercado de trabalho no sentido de ocupação de postos disponíveis.

Isto também não aponta para um pleno emprego, o que temos é que, quanto menor é a taxa de desemprego, mais próximos (ou além) do pleno emprego estamos "naturalmente por inércia". Mas qual é o número de desempregados que levaria em contrapartida o "pleno emprego dos fatores de produção? 5%, 6%?

Anos atrás, muita gente achava que era 8%. Hoje há quem fale em 6%. Mas será que é 5%? Não dá para saber. O fato é que comparando com países desenvolvidos, muitos brasileiros ainda precisam se deslocar para segmentos do mercado de trabalho que permitam um aumento da produtividade mais expressivo e cause um efeito de Renda Nacional mais robusto via pleno emprego. No momento nossa discussão está na eficiência e quando falamos disto podemos perguntar...O que sustenta esta busca pela mão de obra; expansão de crédito ou apagão na cadeia produtiva??

Seja o que for, não parece ser a solução o alívio fiscal ou a queda da taxa de juros ...

Até a próxima e que DEUS nos abençoe !!

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