TSUNAMI DE PALAVRAS


Nos ultimos dias temos vivido momentos de "campanha eleitoral" por duas das mais importantes personagens internacionais, uma alemã, outra brasileira.Em tempos de valorização pública da figura da mulher como grandes atrizes, cantoras, atletas ,lideres religiosas e ja de algum tempo políticas, temos as figuras da semana e do momento por que não dizer, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, principal país da zona do euro e Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil, sexta economia do mundo e principal liderança econômica da América Latina.

Tanto Merkel como Dilma são apostas poderosas eleitorais de seus partidos para uma renovação de liderança e discurso político, ainda que com passados bem diferentes, ambas exercem o poder pragmático da mulher em um meio dominado por políticos barbados.


CONHECENDO A HISTÓRIA


Merkel é filha de um austero pastor luterano criada na ex-Alemanha Oriental comunista para onde seu pai foi enviado nos anos 50 por sua igreja, formada em Física pela Universidade de Leipzig com doutorado em Berlim.Considerada uma centrista em questões sociais como o aborto e a homossexualidade, é partidária de reformas na economia que incluem a flexibilização dos contratos de trabalho.

Em 2005 Angela Merkel enfrentou o chanceler Schröder nas eleições federais com seu partido União Democrática Cristã (CDU) mas não conseguiu uma maioria para formar um governo. Uma grande coligação com o Partido Social Democrata Alemão(SPD) tornou possível o cargo de Chanceler a Merkel, primeira mulher a presidir um governo na Alemanha, e que agora está em seu segundo mandato.

Dilma Rousseff, nascida em família de classe média alta, interessou-se pelos ideais socialistas durante a juventude logo após o Golpe Militar de 1964, iniciando a partir daí na militância armada em grupos de extrema esquerda. Passou quase três anos presa entre 1970 e 72 sob regime de tortura, exatamente no período em que a censura e a perseguição política faziam parte do cardápio do Estado Militar.

Em passado recente, ajudou o primeiro governo do ex-presidente e antecessor Lula em um programa energético, assumiu a casa civil no segundo mandato deste mesmo governo e candidatou-se sob inquestionável apoio e aval de Lula, onde venceu as eleições contra seu principal opositor, o PSDB, tornando-se também a primeira mulher chefe de Estado no Brasil .Sua linha política esta ligado mais ao estado planificador, modelado na clássica doutrina Keynesiana.

É importante analisar que nossas duas personagens tem origem em uma classe social mais abastada, ainda que não rica, mas com condições e acesso a educação de boa qualidade, tiveram também contato por muito tempo com "ideais comunistas", buscando ambas, abrigo em postos políticos para dcesenvolver suas vocações de liderança.


O TSUNAMI DA DISCÓRDIA


Apresentados os personagens, vamos aos fatos que as colocam com discursos diferentes e"teoricamente" em lados opostos. Teoricamente por que o discurso travado nos ultimos dias a respeito de politica monetaria pode estar em duas escolas diferentes, com praticas parecidas e finalidades diferentes.

Não consigo ver Merkel com pricípios liberais e monetaristas, e tampouco Dilma uma Keynesiana convicta, mas devemos reconhecer que o discurso de ambas confunde o mais atento interlocutor, leitor ou até mesmo sua assessoria política.

A presidente Dilma citou "tsunami de liquidez"manifestando preocupação com medidas protecionistas unilaterais via desavalorização cambial, princípio velho de liquidez monetária, onde a expansão da moeda leva uma percepção de desvalorização intrínseca unitária via perda de lastro real.

Merkel rebate o discurso como em uma frenética campanha eleitoral afirmando uma política econômica de cooperação, obrigando os países que operam em "bloco" olharem além de suas fronteiras.Merkel aponta ainda que a liquidez do BC europeu é uma medida destinada a ajudar as reformas da zona do euro com o objetivo de enfrentar a crise da dívida.

Devemos recordar que o Brasil tem pedido que a Europa estabilize o euro antes que o FMI possa aumentar seu próprio capital e libere mais fundos para países em dificuldades da zona do euro, como a Grécia.


O RESULTADO PRÁTICO APESAR DO DISCURSO


O governo brasileiro apóia seu discurso no modus operandis do neoliberalismo ou Consenso de Washington, onde a desvalorização das moedas internacionais, especialmente de países desenvolvidos, dado Coeteris Paribus (tudo no mais constante) dos fundamentos da economia brasileira, alimenta uma demanda pela moeda brasileira(turbinada por uma taxa de juros de dois dígitos), levando a uma sobrevalorização do real .

A consequência mais imediata disto é uma inversão na balança comercial(tornando-se negativa), e criando uma espéce de competitividade artificial dos países em dificuldade, levando lá no fim da linha de raciocínio, uma hipotética e improvável desindustrialização brasileira(a produção se torna cara em território nacional).

O discurso europeu, também apoiado no ideário liberal, usa a base monetária para "restaurar" a capacidade de pagamento soberano(dos governos) na zona do euro, usando a moeda para promover o equilibrio financeiro perdido pelo "estado empresário", aquele que fundou seu programa baseado na prosperidade econômica a custas do endividamento público turbinado pelo crédito e taxas de juros baixas( modelo Keynesiano clássico de economia planificada).

Olhando os dois discursos vejo "MEIOS" iguais para "FINS" diferentes, com Merkel usando a moeda para estabelecer o equlibrio de mercado e produzindo uma forte onda artificial sobre ativos privados(empresas) , e Dilma usando a moeda para promover crédito e consumo na busca da manutenção da prosperidade econômica, que sem poupança levará a um tsunami de crédito e consequentemente a um novo ciclo de endividamento público nocivo ao crescimento sustentado por seu discurso recente.


No mais, muito discurso economicamente correto para encher de orgulho os assessores econômicos do status quo, e pouca novidade para um cenário ja conhecido.


Só nos resta pedir a DEUS que nos abençoe e até a próxima!



Comentários

  1. Professor,

    Seu texto me lembrou um conto oriental, onde seis cegos encontram um elefante, e cada um descrevia o que viu.
    No conto, todos falam a verdade, mas uma verdade parcial.

    As vezes, tenho a impressão que a economia está sendo guiada por cegos, que tateiam o elefante.
    O meio cego é parecido. Os fins diferentes. Além disso, não temos a certeza que estão falando a verdade.

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